domingo, 23 de março de 2008

Olhar em brasa.

Finalmente eu ardo, queima em mim uma vontade, que há tempos guardava os galhos mais secos, e há tempos me secava, seco como se não houvesse lugar para nada além da frustração, nada além de tentativas esparsas, nada além de negações recíprocas. Uma secura de lágrimas, em que meus olhos só cabiam poeira e a ninguém cabia-lhes olhar, e eles eram profundos, guardados, por medo do Sol que reluzia as sem brilho e esquentava as sem calor.
Passei a olhar para dentro, e evitar o engodo dos sentidos, evitar as superfícies, aceitar os fatos e ficar só.
Até explodir! E agora há fogo por todo lugar, por onde passo, o que eu vejo e o que eu ouço também queimam, o fogo me toma de um jeito tão surpreendente que não penso em extingui-lo, só há tempo para a auto-hipnose causada por ele, eu penso que é milagre, já tentara com pedras, com gravetos, isqueiros, e nunca pegava. E assim de repente, eu coloquei a lupa no lugar certo, entre o sol e a moeda, e aconteceu.
Sim eu me sinto bem, pra quem vivia o inverno de amor, eu irradio, eu sinto uma força pulsar, eu sinto a segurança de estar preenchido, eu me encontro aos poucos com meus eus perdidos, e olho, a olho com olhar em brasa, mas ela não vê o quanto eu ardo.
Falta-me chegar até ela, cercá-la, ver se ela quer se esquentar, se também fora seca como eu, se aceitará ser tomada pelo fogo, sem perguntas, sem explicações, apenas respirar fundo e saltar, assim eu a incendiarei.
Sei que no fundo há um receio de que ela seja imune a esta magia, que não acredite, que despreze. Eu não fui brincar com o fogo, ele que veio brincar comigo, eu busquei, mas nunca pensei que fosse acontecer assim como um raio que cai numa árvore, eu já conheço suas crueldades, sei que pode me ferir e me deixar apenas cinzas, mas quem sou eu diante dele para tentar domá-lo ou evitá-lo? Como posso eu com olhos em brasa ver o que se passa? Não posso prever o quanto vai durar, só o que posso é dar tudo o que tenho pra queimar.

by Vini

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