quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

a moeda

No começo era uma moeda, a moeda do meu país, no chão da rua, coberta pela terra, todas passavam por ele e ninguém notava, ali às vistas de qualquer uma, e ninguém notava, após eu tê-la deixado lá eu fiquei de longe observando, meus olhos ressecaram de tanto esperar, por mais que eu me esforçasse para ser notado muita coisa ainda encobria meu brilho, e assim eu fiquei esperando, de longe, e sentindo a moeda longe de mim, eu queria dá-la a alguém, mas essas coisas não se pode oferecer, uma recusa é algo doloroso e corrosivo para a moeda, e aquela era única que eu tinha, a minha moeda de ouro, tão cuidadosamente entalhada, polida por minha reserva nos anos antecessores, preservada apesar da minha vontade de dividi-la com alguém, e essa necessidade vinha de uma imatura incompreensão, de como algo que era tão valioso para mim, tão precioso, tão puro, verdadeiro, especial, ou simplesmente bonito, não fosse nada disso para quem quer que fosse.
Era a moeda do meu reino, reino o qual eu ainda sou príncipe, um reino desconhecidamente vasto, um lugar que poucas visitaram, um lugar a ser explorado, mas isso fica para outra conversa.
O importante é que depois de tanta gente passar por ela na rua, o tempo e o vento foram levando sua poeira, e dependendo do ponto de vista isto pode ser considerado até como ruim. Um dia acharam-na, pegaram, e ao ver seu valor não soltaram mais, me invadiram, me povoaram, me construíram, e eu? Ora, era tudo o que eu queria, sem ver nem imaginar o que acontecia, vendo do dentro era perfeito, eu finalmente dividia, finalmente concordou-se que era tudo aquilo que eu pensava ser, e assim, ingenuamente eu não pensei mais em nada, apenas em permanecer assim, em solidificar aquilo, em eternizar.
Mas não era isso o que devia acontecer, e então de repente, me devolveram, foram embora, e meu mundo escureceu, vi que o meu castelo era de areia, que eu estava construindo feito criança, sem saber que existem ondas na praia, e olhar de criança apesar de belo, não é sempre doce, uma criança chora, mas aprende, e isso é o que a criança mais precisa fazer.
Minha pobre moeda, agora precisava de mim e eu dela, agora a maior prioridade era nosso reencontro, e eu vi o quanto tinha sido tolo, mas para aquele tempo eu entendi e me perdoei, guardei-a pra mim, escondi de todos, e passei cada vez mais a ser dela, e encontrei a resposta parcial do que buscava, de que ela é minha, e não devia estar na rua, eu que devo cuidar dela, e cuidar muito bem.
Por isso eu guardei minha moeda num cubo mágico, que eu levo comigo pra todo lugar, as deixo olharem, as deixo até tentar soluciona-lo, e ainda faço pior, nas faces deste cubo estou desenhando figuras, para distraí-las, para me proteger das que não tiverem a sensibilidade de que a moeda está lá dentro, e que é mais importante do que a figura, por mais que a figura do cubo as interesse, pode até demorar pra conseguirem me decifrar, mas nesse tempo eu estarei com minha moeda, e depois, terei outra tão valiosa quanto ela.

Por Vini

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